A arte fotográfica abrange diversos gêneros — paisagens, retratos, viagens, social, moda, fotojornalismo, natureza, técnica pericial, entre outros. Com a globalização, torna-se cada vez mais difícil evitar a repetição ou não ser apenas mais um entre tantos profissionais.
O que realmente diferencia um fotógrafo não é o equipamento, mas o olhar e a presença marcante de seu estilo — aquela magia de reconhecer o autor à primeira vista. É uma espécie de assinatura invisível, marca registrada de nomes consagrados.
No fotojornalismo, porém, há um detalhe essencial que faz toda a diferença: a referência. São elementos que situam a imagem no tempo e no espaço — local, data, contexto, tensão, volume dos acontecimentos. É o “objeto direto” dos fatos, aquilo que ancora a narrativa visual.
Para ilustrar, recorro à imagem da polêmica implosão das Torres Portugal e Espanha, em Rio Preto, realizada em 29 de abril de 1998. Durante seis meses, acompanhei o drama de 65 famílias afetadas pela queda da Torre Itália, em 16 de outubro de 1997. Documentei tudo, passo a passo: da queda à implosão das duas torres remanescentes. Um trabalho autoral, sem fins lucrativos, apenas histórico.
“No dia D” da implosão, repórteres, engenheiros e arquitetos de vários estados — e até de outros países — estavam presentes. Entre eles, um profissional italiano a quem repassei informações relevantes sobre o caso. Os fotógrafos e cinegrafistas, dias antes, já haviam definido seus pontos estratégicos e aguardavam, posicionados, o acionamento das dinamites previsto para as 11 horas.
Eu, embora conhecedor da área, ainda buscava, a 15 minutos do evento, um ângulo que oferecesse referência clara do local e do movimento. Sabia que a maioria faria imagens fechadas e que, com o tempo, ninguém conseguiria identificar o cenário.
Foi então que, em meio à multidão, avistei a tradicional loja de ferragens da cidade, a Agrometal. Encontrei ali o elemento que ancoraria a foto. Subi no canteiro de um edifício e enquadrei a luminária da loja, o público e a queda. Abri o plano — e o resultado é conhecido: todos se lembram do local da implosão. Diferente das imagens fechadas, que com o tempo se tornam apenas registros genéricos de uma queda, semelhantes a tantos outros.
Para conhecer o quadro a quadro desta história acesse o site http://www.toninhocury.com.br/
