Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de 15 milhões de pessoas no mundo vivendo com lesões na medula espinhal decorrentes de causas traumáticas, como quedas, acidentes de trânsito e episódios de violência.
O termo “transplante de medula espinhal”, frequentemente citado nos noticiários, não é reconhecido na literatura médica. O conceito correto, à luz dos avanços recentes, refere-se ao transplante de tecido da medula espinhal ou à implantação de células, ou segmentos medulares com o objetivo de reparar lesões.
Pacientes com lesão medular traumática completa — caracterizada pela ausência total de função motora e sensitiva abaixo do nível da lesão — são os que apresentam maior potencial de benefício. Nesses casos, diferentes estratégias vêm sendo estudadas, incluindo o uso de células-tronco mesenquimais, células-tronco neurais, células de Schwann ou combinações dessas. Resultados relatados incluem melhora nos escores motores e sensitivos da classificação ASIA, expansão do nível sensitivo, recuperação parcial de funções autonômicas (como controle da bexiga, intestino e sudorese) e, em alguns casos, recuperação de movimentos voluntários.
Pacientes com lesão medular incompleta também podem se beneficiar, embora, em geral, em menor grau. O tempo decorrido desde o trauma é um fator relevante: há evidências de benefício tanto em pacientes em fase aguda (dias a semanas após o trauma) quanto em fase crônica (meses a anos), embora a resposta pareça ser mais expressiva nos casos agudos.
Persistem, contudo, dúvidas importantes, como o tipo e a quantidade ideais de células a serem utilizadas, a melhor via de administração — intratecal, intramedular ou associada ao uso de scaffolds (estruturas tridimensionais que servem de suporte para o crescimento celular). Além disso, técnicas experimentais de transplante de segmentos vascularizados da medula espinhal vêm sendo testadas em paraplégicos crônicos, com relatos de recuperação parcial de funções motoras, sensitivas e autonômicas em alguns pacientes.
Um exemplo promissor vem da Universidade de Tel Aviv, em Israel, que possui grande tradição em bioengenharia, nanotecnologia e medicina regenerativa. Estes pesquisadores publicaram na revista Advanced Science resultados animadores: cerca de 80% dos camundongos com paralisia crônica recuperaram a mobilidade após receber implantes tridimensionais associados a células pluripotentes induzidas, voltando a andar normalmente. Esses achados abrem caminho para futuros estudos em humanos que está prestes de serem iniciados.
Os avanços relatados demonstram que a ciência está abrindo novas perspectivas para milhões de pessoas que vivem com lesões traumáticas da medula espinhal. Ainda que muitos desafios permaneçam, os progressos já obtidos indicam que tratamentos inovadores poderão transformar vidas até então limitadas pela falta de mobilidade. Estimular e apoiar essas pesquisas é investir em esperança, em qualidade de vida e em um futuro mais inclusivo para quem hoje não pode deambular, mas aguarda ansiosamente o dia em que poderá voltar a caminhar.
