Pois é, meu amigo. Mais um ano findando e outro chegando. Na realidade, vai se esvaindo, deslizando lentamente entre os dedos das mãos, sem que você consiga segurá-lo, desfazendo todos os propósitos e sonhos arquitetados, realizados ou não, e colocando-o frente a frente com o próximo desafio.
Já que se vive em plena era da cibernética, pode-se dizer que o tempo passa mais rápido do que a nuvem, vem e vai como o vento e com ele se desfaz. Nem as cinzas são recolhidas, a não ser as que encontraram refúgio e se alojam em nossas memórias. Ali, cuidadosamente, guardamos as parceiras e testemunhas de nossas vidas, segundo o relato de Machado de Assis
Não é preciso remontar os anos da infância e mocidade para dimensionar o tempo. Basta ver o glorioso nascimento de cada dia, num venturoso parto e indescritível crepúsculo. Momentos e mais momentos que se somam e escrevem a história de todos nós. “Contemplar mais entardeceres, subir nas montanhas, nadar nos rios...” canta a inesquecível poesia de Jorge Luis Borges. Pois, se não sabe, disso é feita a vida: só de momentos. Não perca o agora. Carpe diem, dizia o poeta romano Horácio, aconselhando a viver maravilhosamente seu dia de hoje. É um presente do presente.
Enquanto isso, na contagem regressiva, ainda com tempo para aguardar o próximo ano, à moda antiga, expresso meus votos: que você possa apreciar a beleza singela da Sonata ao Luar, de Beethoven, e dançar rodopiando o Bolero de Ravel; que você possa mirar o infinito e fazer com que, usando as cores e pincéis que lhe foram confiados, seja o artífice da nova era e pinte o mundo de acordo com a sua cor, para que a travessia seja mais excitante e a paisagem mais bela; que você possa sentir o amor em toda sua plenitude, abrir os braços e ir ao encontro das boas coisas da vida; que você possa sentir o milagre da vida, tão belo quanto curto, que deveria ser cultivado como as flores mais raras; que você possa pedir colo a Deus e nessa efusão de abraços afetuosos, sentir a grandiosidade do espírito humano, vocacionado para o infinito e a eternidade; que você possa fazer da pena o estilete a penetrar interiores e pinçar, lá no fundo, os fantasmas que habitam os porões da alma humana, devassá-los e cegá-los com a luz da verdade; que você possa carregar neste corpo nanico o gigante sonho que acalenta em sua alma e realizar o sucesso pluralista de suas aspirações; que você possa fazer da solidariedade sua bandeira para desinchar o egoísmo que consome as pessoas e reverter em dividendos de bonança e a mais perfeita sintonia fina nos elevados projetos humanitários; que você possa, enfim, buscar o sucesso que é merecedor, pelo seu talento e, a cada virada de página, receba os aplausos com a franciscana humildade.