Maria Branyas Morera viveu 117 anos e 167 dias! Nascida na Califórnia em 1907, mudou-se para um vilarejo espanhol aos oito anos e tornou-se a pessoa mais longeva já registrada até 2024.
Os supercentenários — pessoas com 110 anos ou mais — podem ajudar a devendar os segredos da longevidade. Para tanto, Manel Esteller, pesquisador da Universidade de Barcelona, e sua equipe analisaram os perfis genético e fisiológico de Maria quando ela tinha 116 anos. Estava lúcida e com boa saúde.
Seus cromossomos eram normais, mas os telômeros — trechos de DNA em suas extremidades que encolhem a cada divisão celular — estavam mais curtos que o esperado, condição frequente em doenças associadas ao envelhecimento. A anciã, contudo, não apresentava tais doenças. Além disso, portava variantes genéticas vinculadas à proteção contra doenças cardiovasculares, perda cognitiva, diabetes e outros males ligados à longevidade extrema. Ganhou o prêmio máximo na “loteria genética”!
No entanto, a “sorte” foi além. Maria tinha baixos níveis de colesterol LDL e altos níveis do bom HDL, além de um sistema imune forte. Aos 113 anos, tornou-se a pessoa mais velha da Espanha a sobreviver à COVID-19. A ausência de inflamação foi creditada ao microbioma intestinal saudável, fruto do consumo diário de três porções de iogurte, da dieta mediterrânea e da prática de atividade física. Ela atribuía seus 117 anos aos vínculos familiares e sociais, os quais a pouparam da solidão, e à sua paixão por cães, piano, leitura e jardinagem.
O envelhecimento resulta dos danos moleculares e celulares provocados pelo acúmulo de alterações no DNA ao longo da vida. Elas não apenas causam mutações genéticas, mas também alterações epigenéticas, constituídas por sinais químicos no DNA capazes de ligar e silenciar genes sem modificar suas sequências. Entre seus estímulos estão o tipo de dieta, o estilo de vida e até mesmo o estresse psicossocial. Condições adversas na infância e na adolescência podem desencadear tais mudanças, com potencial para ativar processos inflamatórios envolvidos em doenças cardiovasculares na idade adulta.
Por sua vez, o ambiente social, um dos pilares para o envelhecimento saudável, pode ser fonte de estresse crônico, o qual eleva a síntese de cortisol e adrenalina — hormônios essenciais à sobrevivência, porém maléficos quando mantidos em níveis altos por períodos prolongados. Há uma correlação positiva entre solidão, produção contínua e aumentada desses hormônios e mortalidade por doença coronariana e acidente vascular cerebral. Tal associação pode elevar o risco de morte por doença cardíaca em até 29% e por AVC em até 32%. Por outro lado, o apoio social atenua os efeitos do estresse crônico, impactando positivamente a saúde física e mental (GeroSciences, 2025).
O aumento da longevidade humana é um fenômeno global. Até 2030, uma em cada seis pessoas terá 60 anos ou mais. Para garantir um envelhecimento com qualidade, é essencial adotar medidas preventivas contra doenças crônicas, promover estilos de vida saudáveis e fortalecer as relações sociais. Afinal, a probabilidade de se alcançar as condições ideais, como as de Maria, é tão baixa quanto acertar as seis dezenas na Mega-Sena.
