As lesões da medula espinhal estão entre os problemas mais graves da medicina, frequentemente resultando em perda de movimentos e sensibilidade, sem possibilidade de reversão. Atualmente, os tratamentos disponíveis são de suporte, com fisioterapia, medicamentos e prevenção de complicações, mas não existe ainda um recurso capaz de restaurar as funções neurológicas. Nesse cenário, surge a polilaminina como uma promissora linha de pesquisa.
A polilaminina não existe naturalmente no corpo humano. Ela é uma forma polimérica da laminina — proteína que integra a matriz extracelular e participa da sustentação e organização dos tecidos. Em laboratório, essa versão polimerizada apresenta propriedades superiores às da laminina simples: promove crescimento de fibras nervosas, estimula a recuperação motora e exerce efeito anti-inflamatório, fatores cruciais após uma lesão da medula.
A laminina, em geral, é essencial em vários tecidos: no sistema nervoso central, auxilia na adesão e sobrevivência de células neurais; nos músculos, participa da ligação entre nervos e fibras musculares; nos rins, integra a barreira de filtração glomerular; na pele e em órgãos periféricos, contribui para cicatrização e manutenção estrutural. Alterações em sua organização podem causar doenças graves, o que mostra a importância dessa proteína e justifica o interesse em explorar sua forma polimerizada.
O primeiro estudo com polilaminina em lesões medulares foi publicado em 2010 por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro na revista FASEB Journal. Ratos tratados com injeção local da substância apresentaram melhora da locomoção já na primeira semana, além de menor inflamação e regeneração de fibras nervosas. Esses resultados indicaram que a polilaminina poderia, no futuro, ser aplicada em seres humanos.
Desde então, a substância continua em fase experimental. No Brasil, o laboratório Cristália, em colaboração com pesquisadores, vem desenvolvendo um medicamento à base de polilaminina para trauma medular. O processo segue as etapas tradicionais de novos fármacos: estudos pré-clínicos, testes de segurança e, futuramente, ensaios clínicos controlados.
É importante, porém, destacar os limites atuais em que não existem estudos concluídos em humanos e os resultados positivos existem apenas em modelos animais sendo o seu uso ainda experimental e sem aprovação regulatória.
Assim, embora traga grande expectativa, a polilaminina deve ser considerada apenas uma molécula em investigação científica. Sua trajetória, entretanto, ilustra como descobertas básicas podem gerar perspectivas terapêuticas para condições até então sem solução.
Se um dia sua eficácia e segurança forem confirmadas em ensaios clínicos, a polilaminina poderá somar-se a outras estratégias inovadoras — como terapias celulares e engenharia de tecidos — na tentativa de regenerar o sistema nervoso central. O objetivo final é oferecer esperança real a milhões de pessoas que hoje vivem com sequelas irreversíveis após uma lesão da medula espinhal.
Em resumo a polilaminina é uma molécula experimental que em animais, mostrou estimular regeneração nervosa e recuperação motora, além de reduzir inflamação. Pesquisas brasileiras foram pioneiras nesse campo e abriram caminho para o desenvolvimento de um possível medicamento, ainda sem comprovação em humanos. Por isso, deve ser vista como uma promissora linha de pesquisa, e não como tratamento disponível no momento.
