MOVIMENTO ANTI-VAX
O movimento antivacina, conhecido em inglês como anti-vax movement, tem como principais representantes os chamados antivaxxers. Embora pareça recente, esse movimento tem origens históricas que remontam ao final do século XVIII, justamente quando surgiram as primeiras iniciativas de vacinação.
Em 1796, Edward Jenner observou que ordenhadores que haviam contraído a varíola bovina — uma forma mais branda da doença — pareciam estar protegidos contra a varíola humana, uma infecção altamente contagiosa e mortal. A partir dessa observação, Jenner desenvolveu a primeira vacina, utilizando material colhido de lesões da varíola bovina para imunizar pessoas contra a forma grave da doença. O sucesso de sua iniciativa marcou o início da vacinação como prática médica e de saúde pública. Anos depois, em 1885, Louis Pasteur fez uma contribuição histórica ao desenvolver a vacina contra a raiva, que passou a ser utilizada em pessoas mordidas por animais infectados, salvando inúmeras vidas.
Com esses avanços, iniciaram-se as primeiras campanhas de imunização no final do século XVIII e início do XIX. No entanto, desde o princípio, a ideia de aplicar material biológico em pessoas saudáveis despertou críticas de natureza médica, religiosa, ética e política. Surgiram objeções quanto à segurança, à liberdade individual e à integridade corporal. Assim, grupos organizados contrários à vacinação começaram a ganhar força na Inglaterra, na Europa continental e nos Estados Unidos, principalmente em reação às leis que tornavam a vacinação obrigatória. Tais grupos alegavam que essas imposições violavam os direitos individuais e as liberdades civis.
No Brasil, um dos episódios mais marcantes ocorreu em 1904, no Rio de Janeiro: a Revolta da Vacina. A população, insatisfeita com a forma autoritária com que a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola foi conduzida pelo governo — liderada por Oswaldo Cruz — saiu às ruas em protesto. Mais do que resistência à vacina em si, o movimento refletia a falta de diálogo e o despreparo na comunicação com a sociedade.
Durante o século XX, o movimento antivacina evoluiu, adotando novos discursos e argumentos. Um dos eventos mais impactantes foi a publicação, em 1998, de um artigo do médico Andrew Wakefield na revista The Lancet, que sugeria uma suposta ligação entre a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) e o autismo. Embora o artigo tenha sido posteriormente retratado e o autor descredenciado, os danos à confiança pública já estavam feitos. Alegações infundadas semelhantes também surgiram nos Estados Unidos, ligando o conservante timerosal, presente em algumas vacinas, ao autismo — uma hipótese amplamente refutada por pesquisas científicas.
Com o advento da internet e, posteriormente, das redes sociais, a partir do final dos anos 1990, o movimento antivacina encontrou novos meios de se disseminar. A facilidade e a velocidade com que informações circulam no ambiente digital permitiram que discursos desinformativos ganhassem grande visibilidade, muitas vezes superando as campanhas educativas baseadas em evidências científicas. Esse fenômeno ficou ainda mais evidente durante a pandemia de COVID-19, quando boatos e teorias conspiratórias sobre vacinas se espalharam rapidamente, alimentando hesitação vacinal em todo o mundo.
Concluindo, o movimento antivacina é multifacetado, com raízes históricas profundas e motivações variadas — desde preocupações com segurança até argumentos filosóficos e políticos sobre liberdade individual. No entanto, ele é sustentado, pela desinformação e pela má interpretação de dados científicos amplificados pelas novas tecnologias de comunicação.
Vacinas salvaram e continuam salvando milhões de vidas. Doenças que hoje são raras ou erradicadas, como a poliomielite, o sarampo e a difteria, só deixaram de ser comuns graças à vacinação em larga escala. Proteger-se com vacinas é um ato de responsabilidade individual e coletiva — um compromisso com a própria saúde e com a saúde da sociedade.