Lúpus e Células CAR-T

A Sociedade Brasileira de Terapia Celular e de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) constituiu um grupo de trabalho para doenças autoimunes com objetivo de estudar e divulgar os resultados existentes bem como novas perspectivas no tratamento destas moléstias. O transplante de células-tronco na modalidade autóloga – utilizando células do próprio paciente - já ocorre desde a década de 90 com resultados relevantes em doenças como a Esclerose múltipla, sistêmica e doença de Crohn e no lúpus eritematoso sistêmico (LES).
O LES é um a doença autoimune crônica caracterizada pela produção de autoanticorpos contra suas próprias células e pode acometer praticamente qualquer órgão, incluindo pele, articulações, rins, sistema nervoso central, pulmões, coração e sistema hematológico. A apresentação clínica é variada, com sintomas como fadiga, febre, manifestações mucocutâneas (exantema malar, úlceras orais, alopecia), articulares (artralgia, artrite), hematológicas (anemia, leucopenia, trombocitopenia), renais (proteinúria, hematúria, insuficiência renal), entre outros.
O diagnóstico está baseado nos dados clínicos e na determinação da presença de autoanticorpos nos exames laboratoriais do paciente.
A gravidade do LES é determinada pelo grau de acometimento orgânico e pela atividade inflamatória, sendo a doença considerada grave quando existe acometimento de órgãos vitais, como rins, sistema nervoso central, coração, pulmões complicações que podem ser potencialmente fatais.
O objetivo do tratamento no LES visa alcançar remissão ou baixa atividade da doença, minimizar o uso de glicocorticoides, prevenir crises e danos orgânicos, e otimizar a qualidade de vida.
O tratamento básico é a hidroxicloroquina, glicocorticoides e anti-inflamatórios não esteroides. O tratamento especializado utiliza imunossupressores que podem ou não ser associados a medicamentos biológicos em especial para pacientes com doença moderada a grave, e que tenham acometimento renal, hematológico ou neurológico. Apesar dos avanços, muitos pacientes tornam-se refratários ao longo do tempo, e o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas tem se mostrado capaz de induzir remissões clínicas prolongadas, embora as recaídas sejam frequentes. Nesse contexto, surge a proposta do uso das células CAR-T, modificadas em laboratório de forma semelhante ao tratamento de linfomas, com o objetivo de eliminar linfócitos B produtores de autoanticorpos, reduzindo os níveis circulantes desses anticorpos e restabelecendo o equilíbrio imunológico.
A literatura atual aponta essa abordagem como uma das mais promissoras no tratamento do LES e de outras doenças autoimunes mediadas por linfócitos B. Os resultados iniciais são encorajadores, com relatos de baixa incidência de efeitos colaterais e de remissões sustentadas em longo prazo.
É importante, no entanto, destacar que a seleção adequada dos pacientes é fundamental e o tratamento deve ser realizado em centros de referência, com equipes capacitadas para o manejo da terapia celular avançada.